Dra. Neliana Buzi Figlie

O “Espírito” da Entrevista Motivacional  é mais do que o uso de um conjunto de intervenções técnicas. Caracteriza-se por um “modo de ser” particular.

Este modo de ser é descrito como o “Espírito da EM”, sendo a base de toda conversa  que acontece. Ele comunica compaixão, aceitação, parceria e respeito.

O espírito da EM é baseado em quatro elementos-chave:

1. Colaboração entre o profissional e o cliente;

2. Evocar ou extrair as idéias do cliente sobre a mudança;

3. Enfatizar a autonomia do cliente.

4. Praticar a compaixão em todo o processo.

 

1. Colaboração (vs. Confrontação)

A colaboração é uma parceria entre o profissional e o cliente, fundamentada no ponto de vista e nas experiências do cliente.

Isso contrasta com algumas outras abordagens de aconselhamento / tratamento, que se baseiam no fato de o profissional assumir um papel de “especialista”, às vezes confrontando o cliente e impondo sua perspectiva sobre o comportamento insalubre do cliente que impactam o curso apropriado de tratamento e resultado.

A colaboração cria relacionamento e facilita a confiança na relação de ajuda, o que pode ser desafiador em um relacionamento mais hierárquico. Isso não significa que o profissional concorda automaticamente com o cliente sobre a natureza do problema ou as mudanças que podem ser mais apropriadas. Embora eles possam ver as coisas de forma diferente, o processo terapêutico é focado na compreensão mútua: não é o cliente ou o profissional que estão certos – ambos tem suas razões. A entrevista motivacional é feita “com e para” alguém, não “sobre ou para” alguém.

2. Evocação (extrair, ao invés de impor idéias)

A abordagem da EM  extrai os pensamentos e idéias da pessoa ao invés de impor ou propor as opiniões do profissional. Esta postura gera motivação e compromisso com a mudança, torna-se mais poderosa quando é originada do cliente e não do profissional.

Não importa quais as razões ou argumentos o profissional oferece para convencer o cliente da necessidade de mudar seu comportamento . A mudança duradoura é mais provável de ocorrer quando o cliente descobre suas próprias razões e determinação para mudar. O trabalho do profissional é “extrair” as próprias motivações e habilidades da pessoa para a mudança, não dizer-lhes o que fazer ou por que devem fazê-lo.

3. Autonomia (vs. Autoridade)

Ao contrário de alguns outros modelos de tratamento que enfatizam o profissional como uma figura de autoridade, Entrevista Motivacional reconhece que o verdadeiro poder para a mudança repousa dentro do cliente. Em última análise, cabe a pessoa acompanhar e fazer com que as suas mudanças aconteçam. Isso é capacitar a pessoa , mas também atribuir responsabilidade por suas ações.

Os praticantes reforçam que não existe uma única “maneira correta” de mudar e que há várias maneiras pelas quais a mudança pode ocorrer. Além de decidir se eles vão fazer uma mudança, os clientes são encorajados a assumir a liderança no desenvolvimento de um “menu de opções” sobre a forma de alcançar a mudança desejada.

4. Compaixão

Compaixão é a capacidade de promover ativamente o bem-estar do outro e dar prioridade às necessidades do outro. É um compromisso deliberado de buscar o bem-estar e o melhor interesse dos outros. É um compromisso de buscar compreender as experiências, valores e motivações dos outros sem se engajar em um julgamento explícito ou implícito. Por fim, a compaixão é uma compreensão de que todos se esforçam para uma vida plena e às vezes encontram barreiras que podem provocar sentimentos de tristeza, dor e vergonha. Como tal, a compaixão é a aceitação do caminho e das escolhas e o respeito pelas emoções difíceis que uma pessoa pode experimentar ao longo do caminho.