Décadas de dados das ciências sociais iluminaram como a opressão e a desigualdade nos níveis macro da sociedade podem se manifestar como trauma e privação em nível micro ou individual. No entanto, as pedagogias clínicas nas áreas de serviços humanos (serviço social, tratamento de transtornos por uso de substâncias, psicologia, psiquiatria) não refletem adequadamente estes avanços. Isso cria barreiras para os serviços que buscam lidar com traumas de engenharia social, ou seja, traumas que ocorrem no contexto de macroestruturas opressivas, como racismo supremacia branca, políticas econômicas neoliberais e cisgênero-heteropatriarcado. A prestação de serviços estruturalmente competentes, por outro lado, existe na interseção do macro e do micro e oferece vantagens éticas e clínicas. Dado seu foco tradicional em provocar mudança de comportamento em nível micro, a modalidade terapêutica de entrevista motivacional (EM) pode não atrair a atenção como uma ferramenta para abordar a injustiça social sistêmica. No entanto, ao integrar os elementos-chave da EM com o SHARP – uma estrutura para lidar com a opressão e a desigualdade – surgem novas opções de competência estrutural. O híbrido resultante, Macro EM, oferece ferramentas para se unir aos clientes e avaliar o impacto da opressão estrutural em problemas individuais, bem como vislumbrar soluções que incluam mudanças em macrossistemas. O que sustenta essa abordagem é a crença de que o trabalho coletivo de derrubar e substituir os sistemas que criam o trauma é fundamental para curar as feridas infligidas pela opressão. Dentro do Macro EM, ativismo, organização e conscientização são intervenções para tratar o TEPT, bem como ferramentas para prevenir a ocorrência de traumas em outros membros da comunidade.
Referência:
Avruch, D. O., & Shaia, W. E. (2022). Macro MI: Using Motivational Interviewing to Address Socially-engineered Trauma. Journal of Progressive Human Services, 33(2), 176–204. https://doi.org/10.1080/10428232.2022.2063622