Dra. Neliana Buzi Figlie

Para formação de grupo psicoterapêuticos de dependentes de substâncias psicoativas é extremamente importante ter claro o diagnóstico, as necessidades e as potencialidades dos clientes, de modo a adaptar o tratamento ao cliente e não vice-versa.

Um bom encaminhamento pode ser a chave do sucesso do tratamento. Para tal, faz-se necessário observar alguns itens:

  1. Distribuição dos participantes:  alguns critérios para divisão dos clientes dentro do contexto do uso de substâncias dependerá da abordagem utilizada, do local de tratamento e dos objetivos dos profissionais. É  indicado que inicialmente seja levado em conta o tipo de substância utilizada, pois os participantes do grupo tendem a desenvolver maior integração e chances de se identificar quando compartilham experiências semelhantes causadas pelo mesmo tipo de substância. Caso o grupo tenha a proposta de elucidar os efeitos e a dependência de determinada substância, certamente o sucesso da discussão dependerá muito das pessoas que o compõem, pois pela nossa observação clínica notamos que os usuários de cocaína-crack funcionam, em termos emocionais e comportamentais, diferentemente de usuários de maconha e, por consequência, de álcool e tabaco por exemplo. Inúmeras razões justificam tais diferenças: o próprio efeito de cada substância; a faixa etária predominante associada ao tipo de substância; a cultura do grupo; a diferenciação de consequências legais devido ao envolvimento com drogas ilícitas, entre outros aspectos.
  1. Gênero : Quanto ao gênero, recomenda-se que as mulheres estejam separadas dos homens, uma vez que a estigmatização e os riscos da mulher dependente de substâncias são mais acentuados no que se refere a violência física, doméstica e sexual bem como maior risco de desenvolvimento de problemas de saúde e, por consequência, psicossociais.
  1. Idade:  Em relação à idade, é proveitosa certa diferença entre os participantes, desde que não sejam adolescentes, uma vez que esses apresentam a necessidade de formar novos laços afetivos, encontram-se em fase de formação da personalidade e com a necessidade de  conviver e interagir mais com o seu grupo de pares, para poderem se sentir respeitados pelo que julgam ser, e um grupo essencialmente composto de adultos pode prejudicar este processo.
  1. Coterapia: Em nossa experiência profissional tem sido enriquecedor conduzir os grupos com dois profissionais, o que possibilita maior troca e amplitude naquilo que está sendo observado tecnicamente e até mesmo em termos práticos, permitindo que o grupo funcione mesmo quando um dos profissionais não esteja presente.
  1. Relação de trabalho: Em determinadas instituições ou empresas, a dependência de substâncias de funcionários pode ser tratada sem comprometimento dos participantes. No entanto, não é raro observar pessoas que frequentam os grupos muito mais para não se prejudicarem no trabalho do que exatamente para receberem tratamento. Nesses casos, é indicado oferecer acompanhamento individual e, se possível, acompanhar cada caso em equipe, tanto por especialistas, como por coordenadores de seu próprio local de trabalho, quanto por profissionais externos.

Referência:

Figlie, NB; Payá, R. Dinâmicas de Grupo e Atividades Clinicas Aplicadas ao Uso de Substancias Psicoativas (2023).  Reimpressão atualizada 1a edição. São Paulo:  Roca- Grupo Gen: 2013.ISBN 978- 85-4120-168-1.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

18 − 4 =

WhatsApp