A vida não melhoraria erradicando a ambivalência. Perceber, considerar e escolher entre alternativas futuras é uma notável habilidade, uma responsabilidade da humanidade e uma característica definidora das democracias. Grandes e pequenas histórias de vida são moldadas pela ambivalência.
Em nível individual, a ambivalência levanta questões sobre como você escolherá ser, e as decisões que tomar, por sua vez, moldarão quem você é. A capacidade de perceber situações de diferentes perspectivas é um elemento fundamental na criatividade e na geração de novas possibilidades. A ambivalência é um primeiro passo em direção à mudança e um passo necessário para desaprender informações e crenças imprecisas. Também promove abertura e viés menos seletivo em relação a novas informações.
Esperar apenas preservar o status quo é uma receita para a infelicidade, porque a mudança é inevitável.
A ambivalência também é importante e valiosa em nível social. As tensões dialéticas e sua resolução estão no cerne da política e da religião. Assim como a música é enriquecida pelos contrapontos, a diversidade de pontos de vista pode favorecer – e de fato é vital –a melhor tomada de decisão nas organizações.
Parece que a ambivalência pode levar as pessoas a perceber e considerar uma gama mais ampla de possibilidades. A dialética de perspectivas contraditórias pode revelar, ainda, uma terceira via que não é nenhum dos aparentes opostos. Não há limitação de caminhos predefinidos.
O caminho da resistência não violenta é um exemplo clássico de uma terceira via que não é nem luta nem fuga, nem dominação nem rendição. Frequentemente, uma terceira via requer não apenas uma ação alternativa, mas uma forma diferente de ver e de pensar. Existe um “aha” súbito ou gradual que transforma o modo como a realidade é percebida. Assim como a paz é muito mais do que a ausência da guerra, um modo de ser não violento é mais do que abster-se de prejudicar os outros. É fazer o que é incompatível com o mal – promover ativamente o bem-estar dos outros.
Algumas coisas são condições para serem aceitas; não confunda uma condição com um problema. Aceitação é deixar de lado a angústia e os esforços para mudar o que não é mutável e o perdão é um desses atos: abrir mão do desejo e simplesmente aceitar quando não podemos mudar a realidade da vida.
Referência:
Miller, W. Pensando melhor… Como a ambivalência molda sua vida. Porto Alegre: Artmed, 2024.