“O que perturba o ser humano não são os fatos, mas a interpretação que ele faz dos fatos”, frase dita no séc. I d. C., por Epíteto, sintetiza a premissa básica das Terapias Cognitivo-Comportamentais. Assim, diferentes pessoas, diante de um mesmo estímulo ou evento, podem apresentar diferentes percepções, gerando a partir daí, sentimentos, comportamentos e reações fisiológicas, completamente diversas. Não é uma questão de pensar de forma positiva, pois se realmente tentarmos apenas ter pensamentos positivos, ao experimentarmos um estado de humor intenso, podemos deixar de perceber que algo pode estar errado. A questão reside em olhar um mesmo evento ou problema a partir dos mais variados pontos de vista – sejam positivos, negativos ou mesmo neutros -, o que pode levar o indivíduo a tirar novas conclusões da situação, bem como pensar em novas soluções para o problema, se for o caso. As influências do meio ajudam a determinar as atitudes, as crenças e os pensamentos que se desenvolvem na infância e que, com frequência, se não modificados, tendem a persistir durante toda a vida.
A capacidade de se mostrar resiliente parece estar ligada a determinadas formas de perceber e decodificar a realidade, cuja base está nas crenças mais internas, construídas ao longo da vida do indivíduo. Desenvolvido a partir dos pressupostos da teoria cognitiva e da teoria dos esquemas, o modelo que segue pressupõe grupamentos de crenças que são denominados Modelos de Crenças Determinantes (MCD) , e que interferem na formação da resiliência:
– MCD de autocontrole: refere-se à capacidade de administrar as emoções diante de uma situação inesperada. Uma leitura adequada as “pistas” recebidas através das outras pessoas, reorienta a interpretação dos fatos, e consequentemente o comportamento.
– MCD de leitura corporal ou controle dos impulsos: é a capacidade de não se deixar levar impulsivamente pela vivência de uma forte emoção, regulando a intensidade de seus impulsos no sistema neuromuscular.
– MCD de otimismo: é uma tendência a se decodificar os fatos de vida a partir de uma forma onde a esperança seja um fator importante. Há uma crença de que o destino pode ser “controlado”, mesmo quando o poder de decisão não está em suas mãos.
– MCD de análise do ambiente: é a capacidade de se identificar precisamente as causas, as relações e as implicações dos problemas, conflitos e adversidades presentes no ambiente. Esta capacidade habilita o indivíduo a se colocar em posições mais seguras, do que se colocar em situações de alto risco.
– MCD de empatia: capacidade do indivíduo em compreender os estados psicológicos de outras pessoas, como se estivesse no lugar destas pessoas. Esta habilidade facilita a aproximação, interação e a conexão entre as pessoas.
– MCD de autoeficácia: é a capacidade de sentir-se convicto quanto à tomada de decisões e eficaz quanto à ação, nas escolhas feitas.
– MCD de alcance das pessoas: é a capacidade de se vincular a outras pessoas, para viabilizar soluções para as adversidades da vida, sem receio ou medo do fracasso, aumentando assim, as redes de suporte e apoio.
– MCD de sentido da vida: é a capacidade de compreensão de um propósito de vida, promovendo um enriquecimento do valor da vida, fortalecendo a pessoa para preservá-la ao máximo.
Essa referência teórica preconiza que quanto mais o indivíduo compartilhe dos conjuntos de crenças geradoras das capacidades acima, maior a chance do desenvolvimento e da manutenção da resiliência. Sabemos, no entanto que, alguns meios são tão desafiadores, que se torna difícil para qualquer pessoa, manter uma atitude positiva frente a estas situações. Mudar seu pensamento, portanto, pode muitas vezes não mudar a situação em que a pessoa está envolvida, mas pode mudar a disposição da pessoa em buscar ajuda ou uma nova solução para o problema.
Referência: Zanelatto, Neide A. & Zanelatto, R. Resiliência. In: Figlie, NB; Diehl, A. livro Prevenção ao uso de álcool, tabaco e outras drogas: o que e como fazer?,(2014) 1 edição. Porto Alegre: Artmed. ISBN 978-85-8271-102-6.