Dra. Neliana Buzi Figlie

Uma forma de trabalhar a ambivalência com as pessoas é apresentar os conceitos de síntese, antítese de modo que a pessoa possa refletir sobre suas diferentes formas de pensar, sentir e ser a fim de que possa escolher um caminho condizente com seu bem-estar.

Conversar sobre a possibilidade de ter experiências contraditórias simultaneamente sem precisar escolher entre elas ou resolvê-las abre um caminho. É uma mudança do pensamento “sim, mas…” para “sim e…”. O exemplo clássico é a relação pai e filhos, quando tentamos mostrar algo que vai dar errado e não somos ouvidos e ao mesmo tempo sabemos que eles precisam viver a vida como ela é, para ter essa aprendizagem e assim construir suas próprias crenças e hábitos.

Isto também pode ser verdade para duas crenças, aparentemente incompatíveis, que podem ser abraçadas juntas em tensão dialética:

•             tese – os seres humanos são inerentemente amorosos e pró-sociais por natureza

•             antítese – os seres humanos são inerentemente egoístas e antissociais por natureza

Nenhuma das proposições pode ser provada conclusivamente, e ambas parecem conter algum elemento de verdade. Abraçar uma visão em detrimento de outra pode se tornar uma profecia autorrealizável, inspirando comportamento generoso ou suspeito em relação aos outros que confirmaria a crença. Ambos podem ser verdadeiros ou reconciliáveis?

•             Síntese: as pessoas têm ambos os potenciais e continuamente escolhem entre eles.

No final, a ambivalência pode ser abraçada como uma dádiva, um privilégio de escolher entre um self possível. A experiência da ambivalência desperta padrões pelos quais seus valores são expressos e moldados, talvez tomando algumas das decisões mais importantes de sua vida. É a rica experiência de ser humano: contemplar os diversos caminhos possíveis e escolher conscientemente qual deles trilhar. A partir dessa perspectiva, a ambivalência é a própria essência do ser humano.

Referência:

Miller, W. Pensando melhor… Como a ambivalência molda sua vida. Porto Alegre: Artmed, 2024.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

quatro − 3 =

WhatsApp