Hoje vamos falar do segundo tipo de ambivalência:
2. A armadilha: Parada-Parada
Para explicar este tipo de ambivalência, vamos nos valer da mitologia grega de Cila e Caríbdis. Os capitães dos navios tinham que navegar por uma passagem marítima estreita entre dois perigos. De um lado, estava Caríbdis, um redemoinho perigoso cujo o risco se navegasse muito perto, era do navio afundar. Do outro lado, havia um afloramento rochoso onde vivia um monstro de seis cabeças e pescoço comprido, Cila, com apetite por marinheiros que eram arrebatados do convés. Cila e Caríbdis tornaram-se uma metáfora para escolher o menor de dois males.
A ambivalência Parada- Parada aborda uma escolha necessária entre duas possibilidades discordantes. Diz-se que é como ser pego entre “uma rocha e um lugar difícil” ou entre “o diabo e o mar azul profundo” e envolve escolher a menor ameaça.
Um componente desagradável da ambivalência com motivos de parada é a sensação de estar preso e de não ter por onde escapar. Você aparentemente deve escolher um ou outro, e nenhum parece bom. Mesmo não escolher é em si tomar uma decisão, permitindo que a escolha seja feita pelas circunstâncias, por outra pessoa ou pela passagem do tempo. Aqui, a antecipação na imaginação não é um prazer, mas um pavor. Imaginar qualquer uma das alternativas pode evocar ansiedade, vergonha, culpa ou desespero. Assim, as pessoas costumam adiar essas escolhas o máximo possível.
A ambivalência às vezes faz com que as pessoas procurem ajuda profissional. Um exemplo é a internação no tratamento do TUS que envolve um receio e desconforto, mas simultaneamente, a pessoa tem a noção de que não consegue mudar sozinha e com isso aceita ajuda.
Vale destacar que as pessoas podem escolher fazer a escolha certa, mesmo quando não é necessariamente o que desejam fazer. Isso acontece o tempo todo.
Referência:
Miller, W. Pensando melhor… Como a ambivalência molda sua vida. Porto Alegre: Artmed, 2024.