Dra. Neliana Buzi Figlie

Em geral, quanto mais um cliente resistir, menor será a probabilidade de que ele mude e maior a de que ele abandone o tratamento. Uma das metas em EM é evitar  ou fortalecer a resistência, pois se ela se faz presente na conversa, é um indicio de que o espirito da EM não está presente.

A resistência é um comportamento observável que ocorre durante o tratamento e sinaliza ao profissional que ele deve reformular sua atuação porque  o cliente não está engajado.

Um grupo de pesquisa do Oregon, Estados Unidos, criou um sistema engenhoso e muito útil para observar comportamentos de resistência durante sessões de tratamento que indicam que o cliente está se afastando do caminho de mudança. São quatro categorias:

                1.            Argumentar: aqui o cliente contesta o conhecimento, a experiência e a integridade do terapeuta, desafiando-o, depreciando-o ou hostilizando-o.

                2.            Interromper: o cliente corta a fala do terapeuta de maneira defensiva, sobrepondo-se a ele (falando junto) ou interrompendo-o.

                3.            Negar: o cliente não expressa disposição de reconhecer problemas, cooperar, assumir responsabilidades, ou aceitar orientação. Culpa outras pessoas, discorda do terapeuta sem mostrar alternativa, justifica seu comportamento, alega que não corre riscos ou os minimiza, mostra-se pessimista ou derrotista, reluta quanto às orientações dadas e mostra contrariedade.

                4.            Ignorar o profissional: o paciente mostra-se desatento, não responde às perguntas, não reage e muda de assunto.

Reações de divergência ou discordância (falas de sustentação) são normais, devem ser esperadas e não são motivos de preocupação, a menos que persistam ou se tornem o padrão do paciente. A seguir, algumas estratégias fundamentais para lidar com a resistência:

  • Utilização do PARR, em especial as reflexões.
  • Mudança de foco: consiste em desviar a atenção do paciente daquilo que parece ser um obstáculo no caminho do progresso, ou seja, trata-se de contornar as barreiras em vez de passar por cima delas.
  • Ênfase no controle e na escolha pessoal: deixar claro, desde o início do processo, que, no fim das contas, é o paciente quem determina o que acontece, atribuindo a ele a responsabilidade integral pelos seus atos. O profissional funciona como um roteirista no processo.
  • Reformulação: reformular as informações que o paciente está oferecendo significa oferecer um novo sentido ou interpretação para elas, sob uma nova luz, a qual propicia mais chances de instauração da mudança.

Referência:

Rollnick, S., Miller, W. R., & Butler, C. C. (2022). Motivational interviewing in health care: Helping patients change behavior. NY: Guilford Press, 2nd edition.

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