Dra. Neliana Buzi Figlie

A descoberta guiada é um processo essencial da terapia cognitivo-comportamental (TCC) que envolve uma deliberada e cuidadosa exploração sistemática dos pensamentos, sentimentos e comportamentos dos pacientes, enfatizando-se como todos eles afetam uns aos outros. Quando praticada de forma eficaz, a descoberta guiada ajuda os pacientes a reconhecerem padrões cognitivos, comportamentais e afetivos e aprender que alguns padrões são mais adaptativos do que outros. À medida que aprendem a reconhecer padrões, os pacientes estão mais bem equipados para gerenciá-los.

É um erro supor que as respostas a essas perguntas são fáceis para os pacientes. Se essas respostas fossem fáceis, muito mais pessoas provavelmente resolveriam seus próprios problemas. Muitos pacientes nunca ouviram perguntas como essas e, portanto, as próprias questões têm o potencial de facilitar o aprendizado.

É importante lembrar que existem dois objetivos principais da descoberta guiada:

1) ajudar o terapeuta a compreender o mundo pessoal do paciente e

2) ajudar o paciente a compreender o seu próprio mundo pessoal.

Os clínicos muitas vezes ficam surpresos ao aprender sobre a semelhança entre descoberta guiada e entrevista motivacional (EM; Miller & Rollnick, 2013). Ambas são sofisticadas abordagens destinadas a ajudar os pacientes a refletirem sobre seus próprios pensamentos, crenças, sentimentos e comportamentos, a fim de avaliá-los intencionalmente. Tanto a descoberta guiada como a EM baseiam-se no pressuposto de que as pessoas agirão em seu próprio benefício quando são ajudadas a reconhecer, compreender e realizar aquilo que mais as beneficia.

Algumas semelhanças específicas entre descoberta guiada e EM incluem:

  • Perguntar aos pacientes como eles tomaram certas decisões e depois ajudá-los a considerar decisões adicionais ou alternativas.
  • Invocar os melhores interesses dos pacientes ao considerar mudanças, em vez de focar no que é certo ou errado por padrões normativos.
  • Utilizar e validar as próprias palavras dos pacientes como alavanca para apresentar uma ideia terapêutica relacionada. Isso aumenta as chances de que os pacientes concordem com os comentários dos terapeutas e diminui suas chances de verem os comentários dos terapeutas como contrários, críticos ou antagônicos.
  • Resumir os comentários dos pacientes de maneira positiva (embora estratégica), com o objetivo de capacitá-los a ouvirem suas próprias palavras. Isso às vezes leva à reconsideração do que disseram e pode abrir a porta para mudar sua forma de pensar, sentir ou agir.
  • Fazer comentários aparentemente casuais que na verdade são mensagens terapêuticas importantes. Isso permite que os pacientes ouçam uma mensagem terapêutica que normalmente poderia ir contra suas crenças, sem necessariamente vê-la como uma contestação. O resultado é que os pacientes podem considerar ou adotar a mensagem terapêutica enquanto ainda escapam de uma humilhação.

É importante não esperar que os pacientes aceitem as mensagens dos terapeutas durante a presente sessão, mas contentar-se em plantar a semente para adicional consideração posteriormente.

Neste contexto, o entrevistador motivacional atua com a aceitação e as habilidades clínicas do PARR. Um pressuposto da EM é que as perguntas sequenciais sejam evitadas, ou no máximo 2 perguntas seguidas. O entrevistador motivacional na descoberta guiada vai se valer em meio as perguntas de reforços positivos, reflexões e resumos e não apenas perguntas abertas.

Outro ponto a destacar é que os terapeutas aprendam o máximo possível, por meio de descoberta guiada, sobre as crenças dos pacientes antes de contestá-las. Como mencionado anteriormente, contestações prematuras tendem a colocar os pacientes na defensiva. Deve ficar claro que as perguntas são feitas de maneira geral, e não pessoal. Isso visa minimizar a probabilidade de um paciente se sentir acusado de fazer algo errado pela natureza pessoal do questionamento. Felizmente, muitos pacientes respondem a perguntas como em reexame de suas próprias crenças. Como resultado, eles podem pedir informações e com isso, propiciamos o foco e a evocação.

Referência:

BECK, A. T. ; LIESE, B. S. Terapia cognitivo-comportamental para transtornos por uso de substâncias e dependências comportamentais. Porto Alegre: Artmed, 2024.

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