Em geral, quanto mais um cliente resistir, menor será a probabilidade de que mude e maior a de que abandone o tratamento. Uma das metas na EM é evitar eliciar ou fortalecer as falas de sustentação ou momentos de discórdia. Na terceira edição da EM, os autores substituem o termo resistência por fala de sustentação ou discórdia por pressupor que na resistência um dos lados confronta e o outro resiste, sendo tal postura contrária ao entrevistador motivacional.
A fala de sustentação é um comportamento observável que ocorre durante o tratamento e sinaliza ao profissional que o cliente não está acompanhando sua linha de ação. Pode indicar que o terapeuta está utilizando estratégias inadequadas para o estágio de mudança em que o cliente se encontra.
Um grupo de pesquisa do Oregon, Estados Unidos, criou um sistema muito útil para observar comportamentos de resistência durante sessões de tratamento que indicam que o cliente está se afastando do caminho de mudança. São quatro categorias:
- Argumentar: aqui o cliente contesta o conhecimento, a experiência e a integridade do profissional, desafiando-o, depreciando-o, ou hostilizando-o;
- Interromper: o cliente corta a fala do terapeuta de maneira defensiva, sobrepondo-se a ele (falando junto) ou interrompendo-o;
- Negar: o cliente não expressa disposição de reconhecer problemas, cooperar, assumir responsabilidades, ou aceitar orientação. Culpa outras pessoas, discorda do terapeuta sem mostrar alternativa, justifica seu comportamento, alega que não corre riscos ou os minimiza, mostra-se pessimista ou derrotista, reluta quanto às orientações dadas e mostra contrariedade;
- Ignorar o terapeuta: o cliente mostra-se desatento, não responde às perguntas, não reage e muda de assunto.
Reações de divergência ou discordância (falas de sustentação) são normais, devem ser esperadas e não são motivos de preocupação, a menos que persistam ou se tornem o padrão do cliente. A seguir, algumas estratégias fundamentais para lidar com a resistência:
- Utilização das reflexões descritas anteriormente.
- Mudança de foco: consiste em desviar a atenção do cliente daquilo que parece ser um obstáculo no caminho do progresso, ou seja, trata-se de contornar as barreiras em vez de passar por cima delas.
- Ênfase no controle e na escolha pessoal: deixar claro, desde o início do processo, que, no fim das contas, é o cliente quem determina o que acontece, atribuindo a ele a responsabilidade integral pelos seus atos. O profissional funciona como um roteirista no processo.
- Reformulação: reformular as informações que o cliente está oferecendo significa oferecer um novo sentido ou interpretação para elas, sob uma nova luz, a qual propicia mais chances de instauração da mudança. Exemplo: uma oportunidade de reformulação para clientes com problemas com bebida é dada pelo fenômeno da tolerância. Muitos deles consideram sua capacidade de “beber bem” como um sinal de que estão seguros, quando, na verdade, essa informação sugere exatamente o oposto: a tolerância ao álcool é um fator de risco.
Referência: Miller, W. R.; Rollnick, S. Motivational Interview – helping people change. 3. ed. New York: The Guilford Press, 2013.