A Entrevista Motivacional é um estilo colaborativo de conversação para fortalecer a motivação pessoal e o comprometimento com a mudança. Surgiu em 1983, e tem se mostrado particularmente útil para pessoas ambivalentes, que querem e ao mesmo tempo, não querem se comprometer a mudar determinado comportamento. A ambivalência aqui é compreendida como “um estado mental no qual a pessoa tem sentimentos coexistentes e conflitantes a respeito de alguma coisa” (FIGLIE e col., 2010) . A ambivalência não é patológica; é uma condição humana.
Inicialmente, em sua primeira edição, a EM concentrava-se em pessoas com problemas relacionados ao álcool e outras drogas. Contudo, logo após sua primeira publicação, várias outras pesquisas foram realizadas e atualmente, existem mais de 160 ensaios clínicos randomizados sobre a abordagem, com uma projeção de duplicação sobre o método a cada três anos (ROLLNICK, 2009). Além disso, a ambivalência, que consiste em uma das matérias-primas da EM, é compreendida como parte da condição humana e por isso, não podia limitar-se somente ao campo das substancias psicoativas e dependências. Percebeu-se, então, que a EM poderia ampliar seu campo de intervenção, sendo encontradas pesquisas sobre asma (SCHMALING, K. B., BLUME, A. W & AFARI, N, 2001), traumatismo craniano (BELL, K.R, 2005), saúde cardiovascular (BECKIE, T.M, 2006), odontologia (WEINSTEIN, P, 2006), diabetes (WEST, D. S. et al, 2007) dietas (BRUG, J. et al, 2007), transtornos da alimentação e obesidade (DUNN, E.C, et al, 2006), família e relacionamentos (CORDOVA, J.V, et al, 2005), jogo patológico (WULFERT, E. et al, 2006), promoção de saúde (ELLIOT, D.L et al, 2007), dentre outros.
A 1ª edição do livro de Entrevista Motivacional aconteceu em 1991, e trouxe os princípios : Expressar a Empatia; Desenvolver a discrepância; Evitar a argumentação; Acompanhar a resistência e Promover a auto-eficácia. Temos essa edição traduzida e publicada no Brasil, pela editora ARTMED. No entanto, na segunda edição, publicada em 2002, o principio Evitar a argumentação foi suprimido uma vez que a postura do entrevistador motivacional é toda pautada na realização de uma conversa colaborativa e não uma argumentação e persuasão. Também surge a metodologia da EM que consiste na utilização de estratégias a partir da influência do aconselhamento centrado na pessoa e ações diretivas elencadas em fazer perguntas abertas, escutar reflexivamente, encorajar, fazer um resumo daquilo que foi desenvolvido e eliciar afirmações automotivacionais por parte do cliente.
Na 3a edição, publicada em 2012, os princípios dão origem ao Espirito da Entrevista Motivacional, com seus quatro componentes: Colaboração, Aceitação, Compaixão e Evocação, bem como os processos que são sequencialmente compostos pelo engajamento; foco; evocação e por fim o plano de tratamento.
Outro aspecto importante a ser destacado é sobre o “ensino” da EM. A EM é um complexo conjunto de habilidades, assim como tocar um instrumento musical ou praticar um esporte, que é aprendido com a prática ao longo do tempo, de preferência com feedback e supervisão. Daí a importância da atualização.
Por fim , na entrevista motivacional, procura destituir o profissional do lugar de suposto saber, para um lugar mais pessoal, que realmente é capaz de compreender plenamente o que se passa na realidade do outro e se dispõe a estar com este outro. A aceitação, pressuposta na empatia e compaixão, parece se tornar mais real no processo e com isso , melhora a adesão e o engajamento por parte do cliente.
Neliana Buzi Figlie