Dra. Neliana Buzi Figlie


 

A EM traz a ideia de equanimidade que remete à perspectiva do aconselhamento com neutralidade. Partindo de sua base conceitual, a EM tem como base evocar os motivos para a mudança. Desta forma, a neutralidade já estaria em si mesma implícita. Contudo, pode haver casos mais urgentes e graves, onde o fator tempo para a decisão, por exemplo, precisa ser considerado. Nestes casos, uma abordagem completamente não diretiva poderia não ter validade e não auxiliar o indivíduo em processos de mudança. Vale lembrar que um meio de verificar a efetividade da intervenção se dá a partir do momento em que houve uma tomada de decisão, seja ela qual for, ainda que seja diversa daquilo que o profissional pensava ser melhor. No aconselhamento com neutralidade, a ajuda para a tomada de decisão não quer dizer influenciar o cliente para decidir-se por este ou aquele caminho.

O espírito de EM indica um tipo de equanimidade como uma característica geral da prática de EM. Esta qualidade por parte do profissional é bastante diferente da escolha consciente de aspiração por parte do profissional: atuar estrategicamente em direção a objetivo particular mudança no cliente, ou intencionalmente manter a neutralidade com relação às mudanças de objetivos do cliente (equilíbrio). Ambas as escolhas que envolvem a equanimidade, e exigem atenção intencional, consciente e habilidades interpessoais.

É importante distinguir equilíbrio de equanimidade. A equanimidade é uma espécie de presença que gostaríamos de ter como parte do espírito da entrevista motivacional, não importa o que estamos fazendo. Como equilíbrio, estamos falando de uma situação particular que tem a ver com a aspiração do profissional à pergunta: “Devo proceder estrategicamente para favorecer a resolução da ambivalência em uma direção particular?”. A EM foi originalmente desenvolvida para o profissional que tem a intenção de resolver a ambivalência em uma determinada direção. O termo “equilíbrio” não faz qualquer sentido até que se tenha um objetivo de mudança, porque é equilíbrio sobre algo. O equilíbrio envolve uma escolha consciente do que você almeja ou não. Agora, se você muda sua escolha em favor do que o cliente lhe comunica, estamos falando em equanimidade e ambas as situações envolvem equanimidade. Ambas envolvem uma abordagem colaborativa, reconhecendo que é o cliente que toma a decisão.

A EM fornece vários outros subsídios que auxiliam o profissional a permanecer auxiliando o cliente no seu processo de tomada de decisão, evocando do cliente de forma equilibrada os prós e os contras, as vantagens e desvantagens do contexto. Para muitos casos, este processo de seleção e análise já é suficiente para que o cliente possa se empoderar de mais ferramentas para obter reflexões e elaborações mais consistentes. Porém, vale lembrar que o profissional deve sempre manter-se alerta para incorrer na armadilha de, inadvertidamente ou até mesmo inconscientemente, defender ou promover algum dos lados em questão.

A  EM envolve orientação habilidosa para explorar ambos lados da ambivalência no processo de mudança, com uma intenção consciente e direção no sentido de trabalhar para manter o seu equilíbrio com equanimidade.

 

Referência: MILLER, W.R. Equipoise and Equanimity in Motivational Interviewing. Motivational Interviewing: Training, Research, Implementation, Practice. V. 1, N. 1 (2012).

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