Dra. Neliana Buzi Figlie

A entrevista motivacional é uma forma de estar com as pessoas e não é outra “escola” de psicoterapia. No entanto, assim como em outros tipos de psicoterapia, o objetivo é facilitar a mudança terapêutica.

Embora a entrevista motivacional seja fortemente enraizada na terapia centrado no cliente de Carl Rogers, ela também compartilha semelhanças com outras abordagens. A entrevista motivacional e as terapias psicanalíticas consideram a ambivalência e a resistência fontes de informações significativas que podem ser usadas produtivamente na terapia. Contudo, elas são bastantes distintas quanto aos tipos de informações que consideram importantes e à maneira como trabalham a ambivalência.

Nas teorias psicanalíticas, a ambivalência costuma ser concebida como um conflito, em geral inconsciente, entre partes da personalidade. Em uma compreensão psicodinâmica, a ambivalência proporciona informações sobre conflitos reprimidos que são transportados do passado, bem como ameaças a uma autoimagem estável, crenças patogênicas, medo da mudança e ganhos secundários. Diferentemente, a entrevista motivacional está muito mais no aqui e agora, sem um ponto de vista anterior sobre os porquês da resistência e a ambivalência. A ambivalência e a resistência não são vistas como patológicas. Em entrevista motivacional, o importante é entender a perspectiva do cliente quanto aos prós e contras da mudança.

Na terapia cognitivo-comportamental, a resistência e a ambivalência não são apresentadas com um status em especial. Entretanto, alguns terapeutas comportamentais, como Patterson e Forgatch,  atribuíram a resistência a uma conceituação cognitiva disfuncional. Exemplo: quando um cliente depressivo não faz as tarefas de casa, terapeutas cognitivos buscam crenças e esquemas que possam estar causando tal resistência, como pessimismo, vulnerabilidade, entre outros. Em contraste com a entrevista motivacional, a terapia cognitivo-comportamental é uma abordagem razoavelmente didática que enfatiza a educação dos clientes para novos comportamentos e maneiras de corrigir crenças disfuncionais. O terapeuta cognitivo-comportamental é considerado um perito que pode orientar o cliente a facilitar a mudança.

A entrevista motivacional envolve mais parceria do que uma relação, com  o potencial de intensificar a eficácia de outras terapias. Estratégias da terapia cognitivo-comportamental (como estruturar as atividades entre as sessões) e das terapias (como apresentar interpretações), podem ser conduzidas no contexto de uma postura relacional que é mais coerente com a entrevista motivacional do que uma postura direcionada por um especialista. Potencialmente, usando o estilo da entrevista motivacional, pode se reduzir a resistência e a defesa e estimular gatilhos internos para a mudança,  intensificando dessa forma os resultados de outras terapias.

Referência:

Entrevista Motivacional no Tratamento de Problemas Psicológicos. Hal Arkowitz; Henny A. Westra; William  Miller; Stephen Rollnick. São Paulo: Roca, 2011.

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