Fala do DR Miller no MINT Virtual Forum,18 – 30/01/2021.
Tema da Conferência: Whats makes helpers helpful? O que torna os profissionais úteis?
· O poder da empatia acurada
· Importância do espírito do Entrevistador Motivacional (Parceria – Aceitação – Compaixão – Evocação)
· A importância do estilo do profissional (acolhedor, escuta ativa e sem julgamentos)
· As diferenças no estilo dos profissionais afetam os resultados da EM
· Evitar a persuasão
· Utilização da EM combinada com diferentes tipos de tratamento
· O impacto similar da EM quando comparada com tratamentos intensivos
De acordo com Rollnick e Miller, a EM é um estilo de conversa colaborativa voltado para o fortalecimento da própria motivação e comprometimento do cliente para com uma mudança. Por se tratar de uma abordagem que tem uma meta específica – resolução da ambivalência – é compreendida com caráter de intervenção breve, podendo assim, ser utilizada por uma ampla gama de profissionais, em diferentes serviços.
A EM é uma abordagem que possui uma base teórica e não é meramente um conjunto de técnicas. Além disto, sofre forte influência do local e do profissional que a pratica. A EM almeja, além da mudança no comportamento, agregar uma visão humanista e construtivista nas modificações de comportamentos de risco.
A EM, de tão simples, torna-se complicada. Sua essência básica está na construção de uma aliança terapêutica ativa, pautada na escuta compassiva e reflexiva, de elementos evocados do próprio paciente. Muitas vezes, um feedback claro e objetivo pode ser extremamente motivador e as pessoas mostram-se mais propensas à mudança quando se sentem livres para fazê-la ou não.
A eficácia da EM será determinada por meio da aplicação da metodologia adequada mediante a prontidão para a mudança em que o cliente se encontra, de forma prática e empática, totalmente oposta a um estilo confrontador e autoritário, podendo ser utilizada em conjunto diversas abordagens teóricas.
Apesar dos avanços recentes na pesquisa em reabilitação, mover as evidências para a prática clínica continua sendo um desafio. Este artigo explora uma nova abordagem para a tradução do conhecimento (KT) com a utilização da entrevista motivacional (EM). EM é um estilo de comunicação normalmente usado para facilitar a mudança de comportamento relacionada à saúde dos pacientes. O artigo explora seu uso potencial como uma intervenção KT destinada a médicos.
Métodos: A literatura relevante sobre EM e KT é resumida e discutida considerando como a EM pode ser usada em uma estratégia de KT destinada a médicos de reabilitação.
Resultados: A motivação do clínico e a prontidão para mudar são questões-chave que influenciam a implementação da prática baseada em evidências. O artigo sugere que a prontidão dos médicos para mudar as práticas clínicas pode ser potencialmente aumentada por meio de EM. A estrutura conceitual, os princípios e as estratégias da EM, normalmente usados em pacientes, são discutidos aqui no contexto de aprimorar a mudança clínica na prática.
Conclusões: EM é uma intervenção eficaz quando o objetivo é motivar os indivíduos a mudar um comportamento. Sugerimos que a EM é uma intervenção baseada em evidências que tem se mostrado eficaz na comunicação com pacientes e justifica o estudo como uma intervenção KT promissora.
Referência: Shalini Lal, Nicol Korner-Bitensky. Motivational interviewing: a novel intervention for translating rehabilitation research into practice. Behav Cogn Psychother 2015 Mar;43(2):129-41. doi: 10.1017/S1352465813000878.
Entrevista motivacional (EM) é um método centrado no cliente para aumentar a motivação intrínseca e fortalecer o compromisso com a mudança por meio da exploração e resolução de ambivalências. Este artigo apresenta os princípios básicos da EM e descreve seu espírito subjacente, que consiste em atitudes de colaboração, evocação e respeito pela autonomia do cliente. Os principais marcadores de processo que indicam o uso da EM, incluindo ambivalência, resistência e conversa sobre mudança, são descritos. Um exemplo de caso é usado para ilustrar a aplicação de habilidades essenciais específicas da EM em resposta a cada um dos processos, e a base teórica para as intervenções demonstradas é discutida.
Referência: Henny A Westra, Adi Aviram. Core skills in motivational interviewing. Addiction. 2016 Nov;111(11):1900-1907. doi: 10.1111/add.13286.
Aline Romani-Sponchiado, Matthew R. Jordan,0 Argyris Stringaris,0 Giovanni A. Salum
As causas das altas taxas de sofrimento psíquico entre os profissionais de saúde e os alunos são em grande parte desconhecidos. Os profissionais de saúde respondem a quem está em perigo com empatia (sentir o que os outros sentem) ou compaixão (preocupar-se com os outros). Este estudo tem como objetivo investigar se empatia e compaixão são características distintas e como ambas as características estão associadas ao afeto (sintomas de esgotamento, depressão, ansiedade e raiva) em alunos de graduação e profissionais de medicina, psicologia e enfermagem. Métodos: Uma amostra de 464 alunos e profissionais preencheu um protocolo online com um questionário de dados sociodemográficos e questionários de autorrelato cobrindo as variáveis de interesse.Resultados: Os resultados indicaram que a empatia está associada a um maior afeto negativo, enquanto a compaixão está associada a um afeto negativo inferior, o que sugere que são traços diferentes. Conclusão: Os resultados fornecem novas evidências de que o bem-estar dos profissionais de saúde pode ser afetado de maneira diferente, dependendo de traços socioemocionais relevantes para a conexão emocional.
Referência : Romani-Sponchiado A, Jordan MR, Stringaris A, Salum GA. Distinct correlates of empathy and compassion with burnout and affective symptoms in health professionals and students. Braz J Psychiatry. 2020;00:000-000. http://dx.doi.org/10.1590/1516-4446-2020-0941
O que torna alguns terapeutas tão mais eficazes do que outros, mesmo quando estão administrando o mesmo tratamento baseado em evidências? Este livro instrutivo identifica habilidades e atitudes interpessoais específicas – muitas vezes esquecidas no treinamento clínico – que promovem melhores resultados para o cliente em uma ampla gama de métodos e contextos de tratamento.
Revisando 70 anos de pesquisa em psicoterapia, os autores proeminentes mostram que empatia, aceitação, calor, foco e outras características de terapeutas eficazes são mensuráveis e ensináveis. Ricamente ilustrado com amostras de diálogos, o livro oferece a profissionais e alunos um modelo para aprender, praticar e automonitorar essas habilidades clínicas cruciais.
CONFIRA!!
“Effective Psychotherapists – Clinical Skills That Improve Client Outcomes”
Arbuckle, Melissa R. MD, PhD; Foster, Forrest P. MSW; Talley, Rachel M. MD; Covell, Nancy H. PhD; Essock, Susan M. PhD
A entrevista motivacional (EM) é um método clínico que almeja ajudar os indivíduos a fazer mudanças comportamentais de modo que consigam atingir um objetivo pessoal. Por meio de um conjunto de estratégias específicas, a EM ajuda os indivíduos a mobilizar seus próprios valores e objetivos intrínsecos para explorar e resolver ambivalências em relação à mudança. Este artigo examina como a EM pode ser aplicada para ajudar a equipe de trabalho a adotar novas práticas baseadas em evidências em ambientes organizacionais. Embora a literatura ofereça estratégias para a implementação de novas práticas dentro das organizações, os líderes se deparam muitas vezes com a ambivalência sobre mudanças nos funcionários. As abordagens de implementação requerem que a equipe faça mudanças substanciais e podem ser facilitadas com base nas estratégias de EM. Isto inclui construir um senso de colaboração desde o início, provocando “conversas sobre mudança” e abordando qualquer ambivalência encontrada. A entrevista motivacional pode ser particularmente útil para trabalhar com aqueles em um estágio de pré-contemplativo (que ainda não viram uma razão para a mudança) e aqueles que estão contemplando a mudança (que veem que existe um problema, mas são ambivalentes quanto à mudança). Este artigo fornece exemplos de como uma abordagem pautada na EM pode ser aplicada para ajudar a facilitar a mudança na equipe de organizações que estão implementando iniciativas de melhoria da qualidade com ilustrações usando um cenário representativo.
Na Entrevista Motivacional em vez de dizer às pessoas por que você acha que elas deveriam mudar, você faz perguntas abertas para ajudá-las a descobrir seus próprios motivos. Por exemplo: ‘O que faria você querer tomar a vacina? O que te convenceria a tomar a vacina? ‘ . Dessa forma, você incentiva as pessoas a identificar as coisas positivas e a resposta que a pessoa lhe dá será o caminho para você trabalhar. Lembrando que pode levar algum tempo para que as pessoas mudem de ideia.
Segue abaixo um passo a passo.
1. Peça permissão para discutir a vacinação COVID-19
Posso falar com você sobre a vacinação da COVID-19?
Em caso afirmativo, vá para a Etapa 2.
Em caso negativo: Você pode dizer que estou comprometido em ajudar os pacientes a ficarem bem e evitar contrair o coronavírus. Estou aqui para apoiá-lo e posso ajudá-lo quando estiver disponível.
2. Explore a prontidão e a experiência (faça QUALQUER uma das seguintes perguntas):
O que você sabe sobre os benefícios da vacina sobre o COVID-19?
O que você está fazendo atualmente para proteger você e sua família da COVID-19?
Qual é o seu entendimento sobre os SEUS riscos de obter COVID-19?
O que você tem feito para ajudar você (e sua família, amigos) a evitar a infecção pelo coronavírus?
Qual a importância de evitar a infecção pelo coronavírus? O que o torna importante? O que seria necessário para torná-lo ainda mais importante?
3. Apoie e afirme QUALQUER interesse, benefício, sucesso atual / passado
Fico feliz em saber que você está tomando medidas para proteger a si mesmo e a outras pessoas contra o COVID-19.
É bom que você tenha optado por ser vacinado contra a gripe no passado.
É ótimo que você tenha tomado outras medidas para se manter saudável durante esta pandemia.
NOTA – Se o paciente manifestar espontaneamente prontidão para receber a vacina COVID-19, vá diretamente para a Etapa 5.
4. Compartilhe informações (com permissão)
Peça permissão para compartilhar informações sobre a vacina contra a COVID-19
(Posso compartilhar algumas informações sobre a vacina contra a COVID-19?)
Se sim, compartilhe informações sobre os benefícios potenciais de receber uma vacina COVID-19 (panfleto ou folder, se disponível):
O risco de ter um caso grave de COVID-19 é maior para indivíduos com doenças crônicas e aqueles com 65 anos ou mais;
As vacinas COVID-19 funcionam: vários estudos científicos tem relatado a eficácia da vacina (Cite os dados dos ensaios, se for o caso);
Risco reduzido de infecção pelo coronavírus;
Risco reduzido de complicações, hospitalização, efeitos em longo prazo;
Probabilidade reduzida de você espalhar a infecção para outras pessoas;
É extremamente importante que todos façam sua parte para evitar a disseminação do COVID-19 para outras pessoas;
Quando aplicável: agradeço tudo o que você já está fazendo para ficar seguro e proteger outras pessoas de serem infectadas com o coronavírus.
Conclusão: A vacinação contra a COVID-19, junto com outros métodos (como uso de máscaras, distanciamento físico, higienização das mãos) oferece proteção contra a transmissão do vírus.
5. Confirme as próximas etapas
Você gostaria de receber a vacina hoje (ou quando for possível)?
Se sim, compartilhe informações sobre as opções e providencie a vacinação
Se a pessoa se recusar, faça QUALQUER uma das seguintes perguntas:
Pergunte se há alguma outra informação que ele gostaria de receber.
Assegure-lhe que forneceremos a vacinação mais tarde, se agora não for o momento certo. Deixe o paciente saber: “Estamos prontos para ajudá-lo, quando você estiver pronto.”
Deixe o paciente saber que você perguntará sobre seu interesse na vacinação em uma consulta subsequente, e a equipe terá prazer em ajudá-lo a qualquer momento.
É difícil para um profissional da saúde ouvir a recusa em se vacinar diante de tanto empenho da ciência, bem como de tantos adoecimentos e mortes, mas deixar a porta aberta com a pessoa que resiste a vacinação ainda é a melhor opção, porque a motivação flutua e se ele mudar de ideia, você terá mais chances dando-lhe autonomia do que se moralizar ou julgar.
Referências:
Gagneur, A., Gosselin, V., & Dubé, È. (2018). Motivational interviewing: A promising tool to address vaccine hesitancy. Vaccine, 36(44), 6553-6555.
Gagneur A., Battista, M. C., Boucher, F. D., Tapiero, B., Quach, C., De Wals, P., … & Dubé, È. (2019). Promoting vaccination in maternity wards─ motivational interview technique reduces hesitancy and enhances intention to vaccinate, results from a multicentre non-controlled pre-and post-intervention RCT-nested study, Quebec, March 2014 to February 2015. Eurosurveillance, 24(36), 1800641.
Opel, D. J., Robinson, J. D., Spielvogle, H., Spina, C., Garrett, K., Dempsey, A. F., … & Taylor, J. A. (2020). ‘Presumptively Initiating Vaccines and Optimizing Talk with Motivational Interviewing’(PIVOT with MI) trial: a protocol for a cluster randomised controlled trial of a clinician vaccine communication intervention. BMJ open, 10(8), e039299.
Verger, P., & Dubé, E. (2020). Restoring confidence in vaccines in the COVID-19 era. Expert Review of Vaccines, 19(11).
Viver no sudoeste americano possibilita um contato muito próximo índios nativos, onde os profissionais compartilham conhecimentos sobre a Entrevista Motivacional como um meio de ajudar as comunidades locais. Os indígenas relataram que a forma respeitosa da Entrevista Motivacional se relacionar com os outros é muito compatível com normas tribais. Com isso, um líder indígena relatou que para ensinar algo novo para sua tribo, ele precisaria ter uma música, uma dança ou uma oração e com isso, ele ofertou aos profissionais a oração abaixo, que a meu ver reflete inteiramente a essência da Entrevista Motivacional e ajuda o profissional a se conectar com sua verdadeira missão.
O estilo direcional gentil utilizado na Entrevista Motivacional possibilita ao cliente a promoção da aderência de uma mudança específica de comportamento: a pessoa começa a se apropriar da mudança de comportamento ao eleger uma meta de mudança particular (não do profissional) com importância e significados altamente pessoais.
Note que direcional é diferente de ser diretivo. Na EM o profissional é direcional: costumo dizer que é quase como se o profissional fosse o roteirista do filme – o profissional evoca a motivação e valores e objetivos de modo que a pessoa possa se dar conta do que de fato é importante para ela, a fim de que ela se compromisse com uma mudança específica. Uma postura diretiva, envolve um foco pré-definido e prescrições. Exemplo clássico: dietas.
Com isso não quero dizer que as dietas não sejam importantes e necessárias, mas elas serão indicadas após o cliente se engajar no tratamento, quando ele estiver com um foco definido e ter claros os recursos e habilidades que ele poderá utilizar. Ou seja, na fase de planejamento, a dieta pode ser recomendada, caso o cliente necessite.
A Entrevista Motivacional é uma maneira mais amigável de falar sobre mudança, que tem sido demostrada como efetiva por vários pesquisadores na alimentação e atividade física, de modo a evitar o ciclo da compulsão alimentar.
Postura do Entrevistador Motivacional:
· Convide os clientes a dividirem suas histórias com você; reflita essas histórias sem julgamento (tirando o tom de desgraça). Em seguida, ofereça uma nova abordagem focada na variedade, equilíbrio e moderação invés de restrição, evitação e desespero.
· Lidar com comportamentos ambivalentes na mudança do comportamento faz parte do processo.
· A motivação para a mudança aumenta quando o cliente reconhece que existe uma discrepância entre seu comportamento atual e seu objetivo/ valores pessoais.
· A motivação é baseada nas habilidades, confiança e crença de que os esforços da pessoa irão funcionar!
· A mudança do comportamento é fruto da motivação e não somente da educação / informação.
Referência:
Motivational Interviewing in Nutrition and Fitness
Nos ensinamentos clássicos da tradição budista, a compaixão é definida como “o coração que treme diante do sofrimento” (p. 144), e é considerada “a qualidade mais nobre do coração humano” e “a motivação subjacente a todos os caminhos meditativos. cura e libertação ”. A compaixão é uma resposta ao sofrimento baseada no reconhecimento de que “nem toda dor pode ser ‘fixa’ ou ‘resolvida’”, embora seja também ‘a capacidade de se abrir à realidade do sofrimento e de aspirar à sua cura’ . Compaixão inclui bondade, empatia, generosidade, aceitação, coragem, tolerância e equanimidade. Segundo o psicólogo Paul Gilbert (2009), a compaixão está presente em nosso sistema, dada a nossa tendência de cuidar dos jovens. Ele define compaixão com base no cuidado, calma, simpatia, empatia e não julgamento. Neff (2003a) descreve a auto-compaixão como incluindo a auto-bondade (‘ser gentil e compreensivo consigo mesmo em casos de dor ou fracasso’ (p. 85), humanidade comum (‘percebendo a própria experiência como parte da experiência humana mais ampla ‘e atenção plena (mantendo pensamentos e sentimentos dolorosos em consciência equilibrada. Os autores oferecem a seguinte definição: “Compaixão é uma orientação da mente que reconhece a dor e a universalidade da dor na experiência humana e a capacidade de enfrentá-la com bondade, empatia, equanimidade e paciência. Embora a autocompaixão oriente nossa própria experiência, a compaixão estende essa orientação à experiência de outras pessoas ”(p. 145). Eles analisam o papel da compaixão em nossas vidas como crucial para o nosso bem-estar e como alternativa à aversão e ao medo. “É o que nos permite voltar para a angústia e a dor, em vez de fugir dela” (p. 146).
Muitas tradições espirituais sugerem que “podemos aprender a inclinar a mente / coração para a compaixão” (p. 148). A compaixão nessas tradições é considerada uma arte como qualquer outra arte. É desenvolvido com base em práticas sustentadas e dedicadas. Nesse sentido, “é uma reeducação do coração, aprendendo o que significa ser gentil e presente no meio do sofrimento” (p. 148). Atualmente, a pesquisa mostra que as intervenções baseadas na atenção plena cultivam a autocompaixão, mesmo na ausência de meditações explícitas sobre a compaixão. Eles também são eficazes para aliviar o sofrimento em parte porque cultivam compaixão (Kuyken et al. 2010) (p. 149). “Todo estudo que examina a relação entre compaixão e construções psicológicas sugere que a compaixão está positivamente associada ao bem-estar e negativamente associada ao sofrimento (Fredrickson e Losada, 2005; Kelly, Zuroff e Shapira 2009; Lutz et al. 2008; Neff 2003a, 2003b)”. Os autores descrevem como o auto-julgamento e a vergonha inibem o surgimento da compaixão e, em muitos casos, garantem a continuidade do sofrimento emocional. A ruminação pode solidificar a experiência, impedindo a mudança (p. 150).
“A autocompaixão se preocupa em reformular a narrativa pessoal. Em vez de ansiedade, depressão ou obsessão serem vistas como falhas e inadequações pessoais, elas são vistas simplesmente como sofrimento, garantindo a mesma compaixão que estenderíamos a qualquer pessoa que estivesse sofrendo. Compaixão não é simplesmente uma emoção agradável. É uma transformação radical da nossa visão do sofrimento e da nossa visão do “eu” (p. 150). Os autores consideram a mudança da aversão para o acolhimento, a amizade e a aceitação como “a mudança emocional e psicológica mais radical que uma pessoa pode fazer. É uma mudança, catalisada pela atenção plena, de ser uma vítima desamparada ou sofredora à mercê da depressão para se tornar um participante do processo de cura”(p. 151). Essa mudança, de acordo com os escritores, é o primeiro passo para o cenário da compaixão.
Os autores analisam o lugar da compaixão na meditação da atenção plena e demonstram isso ao longo do artigo com base em um estudo de caso de uma mulher deprimida. “Depressão é uma paisagem caracterizada por aversão, opiniões e julgamentos negativos, congelando a compaixão. Quando a compaixão é cultivada, há degelo que permite a cura, a capacidade de resposta e uma série de comportamentos nutritivos e hábeis que podem romper o padrão de recorrências da depressão e aumentar a resiliência de uma pessoa. ”(P. 154)
Eles observam três mudanças cognitivas na maneira como a atenção plena trabalha para aliviar o sofrimento através da compaixão: 1. A mudança de atitude. Em vez de “como me livrar disso”, pergunta-se “do que isso precisa”. 2. A capacidade de ver um pensamento como um pensamento e uma emoção como uma emoção. Isso significa tirar o ‘eu’ do processo. 3. O cultivo de uma perspectiva universal em relação às aflições e sofrimentos humanos. “A compaixão não possui hierarquias, as aflições da mente são tão dignas quanto as aflições do corpo, as perdas e tristezas fazem parte de toda vida humana. Todos são dignos de compaixão ”(p. 153).
Referencias:
· Feldman, C. & Kuyken, W. (2011). Compassion in the landscape of Suffering. Contemporary Buddhism, 12(1), 143-155
· Fredrickson, B. L., and Losada, M. F. (2005). Positive affect and the complex dynamics of human flourishing. American Psychologist 60, 678–86.
· Gilbert, P. (2009). The compassionate mind. London: Constable.
· Kelly, A. C., Zuroff, D. C., and Shapira, L. B. (2009). Soothing oneself and resisting selfattacks: The treatment of two intrapersonal deficits in depression vulnerability. Cognitive Therapy and Research 33, 301–13.
· Kuyken, W., Watkins E.R.,Holden, E.R., White, K., Taylor, R.S., Byford, S., Evans, S., Radford, A., Teasdale J.D., and Dalgleish, T.( 20100. How does mindfulness-based cognitive therapy work? Behaviour Research and Therapy 48, 1105–12.
· Lutz, A., Brefczynski-Lewis, J. , Johnstone, T. Davidson, R.J. (2008). Regulation of the neural circuitry of emotion by compassion meditation: Effects of meditative expertise. PLoS ONE 3, e1897.
· Neff, K. D. (2003a). Self-compassion: An alternative conceptualization of a healthy attitude toward oneself. Self and Identity 2. 85–101.
· Neff, K. D. (2003b). The development and validation of a scale to measure selfcompassion. Self and Identity 2, 223–50.